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O mar

 

O´ mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Fernando Pessoa

Mar salgado. O mar que nos rodeia e que, a cada instante, vemos e admiramos, desde o bater das vagas, nas nossas costas agrestes, até ao horizonte, onde o Sol se some, diariamente.

Este mar que anda, constantemente, à nossa volta, oferecendo-nos momentos de êxito ou, no inverno e nas tempestades horas aflitivas e de angústia, é o mesmo mar que os portugueses, em minúsculas caravelas, sulcando as “estradas” abertas nos oceanos medonhos, levou por caminhos desconhecidos a terras  ignoradas, trazendo para o mundo civilizado, novas terras e novas gentes.

E é este mesmo mar salgado que, diariamente,  está à nossa frente, ora calmo e bonançoso ora revolto e tenebroso.

“Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/ quantos filhos em vão rezaram!/ quantas noivas fiaram por casar / para que fosses nossos, ó mar!”

Mas, agora que bem diminuta é a porção que nos resta, desse mar que, em jornadas gloriosas, conquistámos,  julgo que não valeu a pena tantas perdas de vidas, tantos haveres e tantas conquistas.

A tempo escreveu Camões esse monumento épico, para prestar homenagem ao Gama e companheiros, que rasgaram novos caminhos e criaram novo reino. E tudo se perdeu, ingloriamente.

Mas deixemos o mar das descobertas e conquistas, e voltemo-nos para o mar que ainda é nosso, onde nos implantámos, donde tiramos uma parte da nossa subsistência, embora sujeita a medidas e restrições que outros nos impõem,  ardilosamente.

É o mar salgado que rodeia, por todos os lados, estes nove pináculos que gente do Infante descobriu e povoou e que é o resto de uma epopeia assombrosa, que a história regista mas que deixámos de usufruir. São os outros que de tudo se apossaram e hoje fiscalizam nossos teres e haveres.

O mar nos rodeia. Dele retiramos as diversas espécies de peixe, como outrora caçávamos a baleia  que produzia o óleo para a iluminação e, mas tarde, para a indústria, e a carne que, farinhada, era alimento de animais e adubo dos terrenos; e igualmente a toninha, da qual extraíam o óleo para iluminação doméstica e a carne para a alimentação do homem. E que  excelente era.

Desapareceu  a indústria baleeira, da qual nos resta o Museu e as canoas que foram espalhadas por portos e portecos para o desporto náutico. O atum deixou de pescar-se porque desapareceu o peixe miúdo que serve agora de alimento aos cachalotes e outros grandes mamíferos que povoam  estes mares e que são o regalo dos visitantes.

Tudo ficou descontrolado e o homem a sofrer  os caprichos dos actuais cientistas !...

Resta-nos o mar imenso que está na nossa frente e que nos oferece, mesmo assim, panoramas extasiantes que são regalo para os momentos de ócio e que nos faz esquecer as horas de tragédia vividas, quando os temporais e ciclones se aproximam das costas .

Somos ilhas porque o mar nos rodeia por todos os lados. Mas somos terra que se eleva às alturas e que nos faz alcançar um horizonte distante onde o sol, diariamente, se esconde para surgir no dia imediato, a aquecer-nos e a fazer crescer  a vegetação que nos cerca.

E é nestas ilhas que vivemos. Que vive um povo ignorado muitas vezes pelos que administram estes territórios, esquecendo que o Corvo é diferente de Santa Maria, como o Pico de São Miguel. Todas são diferentes e só iguais porque o mar as rodeia.

Este mar salgado, que são lágrimas desses que por ele ficaram e por muitos que, nestes quinhentos anos aqui se estabeleceram e têm mantido a soberania portuguesa. O resto de um Império que o tempo levou...

Afinal, “Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu”.

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